segunda-feira, janeiro 14, 2008

Começa a barbárie esclarecida, começa o BBB8


Tenho lido inúmeras opiniões sobre o reality show mais conhecido de todos os tempos: o BBB8. O que me choca nessas opiniões é o apoio explícito a uma modalidade de entretenimento prejudicial a qualquer consciência esclarecida. Um programa de televisão que alegoricamente retrata a situação social e intelectual do mundo hoje, inclusive de pessoas que se dizem promotoras da formação cultural.

Sem dúvidas, o programa faz sucesso em todas as camadas. Desde os mais pobres até os ricos excêntricos. É fascinante ver o comportamento de pessoas enclausuradas numa casa com câmeras em todos os ambientes. O corpo, o linguajar, as atitudes, os gestos, tudo não escapa às lentes sempre ligadas do aparelho, que transmitem aos lares brasileiros e mundiais, cenas que eles mesmos estão acostumados a presenciar no dia-a-dia. Há apenas uma diferença. Os que estão dentro da casa não se vêem a si mesmos, apenas os que estão de fora. Estes últimos são convocados a dar seu parecer na eliminação de um candidato. A maioria julga pelo comportamento que acham ser um péssimo exemplo. Mas se estes, no lugar de julgar, estivessem dentro da casa? Não fariam a mesma coisa?

O problema do BBB é o fato de representar a subjugação da razão humana. O aparelho faz o intermédio desse julgamento, logo ilustra que estamos sobre a lógica do domínio. As pessoas se identificam com o programa. Observam todos os seus desejos representados em um personagem, em um herói. Optam por aquele que mais expresse seus ínfimos sonhos, e o apóiam até o fim. A televisão e esses tipos de programa fazem essa revelação nua e crua, e as pessoas gostam de ver. Gostam de presenciar seu próprio sofrimento, sua própria decadência. É fenômeno do sadomasoquismo social.

Os programas de reality show como o Big Brother Brasil mostram que nossa sociedade não se livrou dos fantasmas da penúria, porque sempre cultivamos a esperança de que as coisas um dia podem melhorar, que um grande prêmio chegará e resolverá todos os problemas. Mas a rotina humana de domínio ainda continua. O trabalho alienado persevera em todos os âmbitos. Esses tipos de programas servem apenas para nos manter afastados de um real esclarecimento, de uma real reflexão. Ao chegar em casa depois de uma enfadonha rotina de trabalho, a única coisa que se espera é recompor as energias para o próximo dia. Além de fazer isso, os programas de entretenimento colocam ao indivíduo o fato de que ele deve se acostumar a essa situação. Não existem saídas. Ou você se coloca sob o domínio, ou se isola socialmente.

Os participantes do BBB8 são o protótipo desse isolamento. Por isso, pagam um preço muito alto: a própria autonomia e liberdade. Com programas assim, não há espaço para o diferente, muito menos para mostrar que podemos ser livres e autônimos, sem nos submetermos a qualquer forma de domínio.

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