sábado, fevereiro 28, 2009

Defesa de dissertação

Finalmente, é chegado o grande dia em que defenderei publicamente minha dissertação de mestrado. Acredito que seja uma emoção muito grande, pois me preparei dois anos para isso e claro, espero poder responder as expectativas que foram depositadas em minha pessoa. Mesmo sabendo das dificuldades em se defender algo hoje em dia, tenho confiança de que tudo ocorrerá com maior tranquilidade possível.

Meu trabalho aborda o conceito de progresso no pensamento do filósofo alemão Theodor W. Adorno (1903-1969). Nascido no mesmo século que eu, este pensador, membro da chamada Escola de Frankfurt e intelectual da Teoria Crítica, me chamou muito a atenção pela crítica que fez ao processo de desenvolvimento da sociedade moderna. Tomando filósofos modernos e contemporâneos, Adorno traça uma crítica que denuncia o empobrecimento das consciências e o avanço da barbárie na sociedade. O principal diagnóstico dessa crise seria a utilização da arte como entretenimento e não como fruição estética ou dinâmica cognitiva.

Defendo a tese de que Adorno não teria abandonado a noção de progresso pelo seu envolvimento com a barbárie. Mesmo admitindo na sua mais famosa obra Dialética do Esclarecimento, escrita conjuntamente com Max Horkheimer, que o progresso leva consigo a barbárie, na década de 1960, ele retoma a temática do progresso para esclarecer alguns equívocos, dentre os quais o fato de que a noção de progresso deve ser considerada não na perspectiva de um processo linear e teleológico, mas como fator crítico e dialético.

Para exemplificar isso, no terceiro capítulo do meu trabalho, utilizo como referência os estudos sobre música feitos pelo filósofo alemão. Em Adorno, a música recebe um status privilegiado. Ele foi compositor e estudou com o tradicional grupo de músicos da Segundo Escola de Viena, cujo grande representante é Arnold Schoenberg. A música atonal praticada pela Escola de Viena representa um progresso na música porque rompe com a perspectiva de sistema e padronização que até então vigorava na música tradicional. Existe um forte caráter de protesto nas composições atonais, uma vez que elas revelam as contradições e antagonismos reinantes na sociedade. A situação da música contemporânea é o ponto chave para Adorno fazer sua crítica ao progresso na sociedade dominada pelas relações econômicas.

Caros leitores e leitoras do meu blog, este é um pouco da minha pesquisa. Quando fizer as revisões sugeridas pela banca, então farei a disponibilização do meu trabalho. Assim, quem quiser se aprofundar mais, é só ler meu texto. Desde já agradeço aqueles que acompanham meu esforço em fazer com que a filosofia seja reconhecida e praticada nacionalmente. Essa força é necessária pelo amor a sabedoria!

Publiquei recentimente dois artigos sobre Adorno. Quem se interessar é só acessar as revistas:
Controvérsia: http://www.controversia.unisinos.br
Revista Urutágua: http://www.urutagua.uem.br

domingo, fevereiro 01, 2009

Eu quero é de graça!

Quando a gente vai a um supermercado, sempre aparece um vendedor querendo que experimentemos algum produto grátis, apenas para fazer aquele velho sermão da qualidade e do diferencial do produto. Percebi que o "de graça" não é assim tão de graça como parece ser. As pessoas pagam sim, nem que este pagamento seja na forma de perda de tempo escutando as vantagens sem fins de um produto ou alimento qualquer.



Estamos cheios de anúncios dizendo que ao comprar isso você ganha aquilo, ou ao participar desta promoção você leva para casa este utensílio doméstico gratuitamente. Ai nós nos sentimos cheios de vantagem, acreditamos que somos especiais ou importantes e que fomos merecedores dos prêmios que recebemos. Em outros casos, até nos achamos mais espertos que os vendedores, chegando ao ponto de passar a perna em alguém.



Se algum de meus leitores e leitoras já estiver pensando assim, é melhor ler o que Adorno escreveu em seu aforismo III em Mensagens numa garrafa:

A liberdade como eles a entendem - As pessoas manipulam a tal ponto o conceito
de liberdade, que ele acabou por se reduzir ao direito dos mais fortes e mais
ricos de tirarem dos mais fracos e mais pobres o que estes ainda têm. As
tentativas de modificar isso são encaradas como intromissões lamentáveis no
campo do próprio individualismo, que, pela lógica dessa liberdade, dissolveu-se
num vazio administrado. Mas o espírito objetivo da linguagem não se deixa
enganar. O alemão e o inglês reservam a palavra "livre" para os bens e serviços
que não custam nada. À parte a crítica da economia política, isso testemunha a
falta de liberdade que a relação de troca, ela mesma, pressupõe; não há
liberdade enquanto tudo tem um preço e, na sociedade reificada, as coisas
isentas do mecanismo de preço só existem com rudimentos lastimáveis. Ante uma
inspeção mais rigorosa, costuma-se constatar que também elas têm seu preço e
constituem migalhas dadas juntamente com as mercadorias, ou, pelo menos, com a
dominação: os parques tornam as prisões mais suportáveis para quem não está
dentro delas. Entretanto, para as pessoas de temperamento livre, espontâneo,
sereno e imperturbável, que da falta de liberdade extraem a liberdade como um
privilégio, a linguagem reserva, prontinho, um nome apropriado: desaforo.

Observem que Adorno quis mostrar não uma coisa facilmente constatável para os mais espertos, a saber, tudo que é de graça tem um preço, mas, na verdade, o filósofo alerta para um dado preocupante: a falta de liberdade. Sabemos que a liberdade é uma conquista revolucionária. Para garantir a liberdade é preciso lutar todos os dias para que ela seja respeitada. A todo momento, somos bombardeados com propaganda que nos incita a viver escravos do consumo. Neste sentido, a geladeira que eu levo para casa porque ganhei da loja um sofá só corrobora o fato de que eu acredito estar levando vantagem em tudo, quando na verdade, sou apenas um joguete nas mãos do capital.

As reflexões de Adorno são um convite para pensar nossa atitude diante do mundo. O que queremos ser daqui para frente? Seres emancipados ou escravos da nossa própria cegueira? Leiam com atenção, novamente o aforismo acima e deixem seus comentários sobre o que lhes causou mais impacto. Vamos discutir a temática do filósofo de Frankfurt.

Minha Filosofia é

um site de reflexão sobre vários assuntos. Seu objetivo é levantar debates e questionamentos acerca dos acontecimentos contemporâneos. Sugestões e comentários são bem-vindos.


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