domingo, fevereiro 01, 2009

Eu quero é de graça!

Quando a gente vai a um supermercado, sempre aparece um vendedor querendo que experimentemos algum produto grátis, apenas para fazer aquele velho sermão da qualidade e do diferencial do produto. Percebi que o "de graça" não é assim tão de graça como parece ser. As pessoas pagam sim, nem que este pagamento seja na forma de perda de tempo escutando as vantagens sem fins de um produto ou alimento qualquer.



Estamos cheios de anúncios dizendo que ao comprar isso você ganha aquilo, ou ao participar desta promoção você leva para casa este utensílio doméstico gratuitamente. Ai nós nos sentimos cheios de vantagem, acreditamos que somos especiais ou importantes e que fomos merecedores dos prêmios que recebemos. Em outros casos, até nos achamos mais espertos que os vendedores, chegando ao ponto de passar a perna em alguém.



Se algum de meus leitores e leitoras já estiver pensando assim, é melhor ler o que Adorno escreveu em seu aforismo III em Mensagens numa garrafa:

A liberdade como eles a entendem - As pessoas manipulam a tal ponto o conceito
de liberdade, que ele acabou por se reduzir ao direito dos mais fortes e mais
ricos de tirarem dos mais fracos e mais pobres o que estes ainda têm. As
tentativas de modificar isso são encaradas como intromissões lamentáveis no
campo do próprio individualismo, que, pela lógica dessa liberdade, dissolveu-se
num vazio administrado. Mas o espírito objetivo da linguagem não se deixa
enganar. O alemão e o inglês reservam a palavra "livre" para os bens e serviços
que não custam nada. À parte a crítica da economia política, isso testemunha a
falta de liberdade que a relação de troca, ela mesma, pressupõe; não há
liberdade enquanto tudo tem um preço e, na sociedade reificada, as coisas
isentas do mecanismo de preço só existem com rudimentos lastimáveis. Ante uma
inspeção mais rigorosa, costuma-se constatar que também elas têm seu preço e
constituem migalhas dadas juntamente com as mercadorias, ou, pelo menos, com a
dominação: os parques tornam as prisões mais suportáveis para quem não está
dentro delas. Entretanto, para as pessoas de temperamento livre, espontâneo,
sereno e imperturbável, que da falta de liberdade extraem a liberdade como um
privilégio, a linguagem reserva, prontinho, um nome apropriado: desaforo.

Observem que Adorno quis mostrar não uma coisa facilmente constatável para os mais espertos, a saber, tudo que é de graça tem um preço, mas, na verdade, o filósofo alerta para um dado preocupante: a falta de liberdade. Sabemos que a liberdade é uma conquista revolucionária. Para garantir a liberdade é preciso lutar todos os dias para que ela seja respeitada. A todo momento, somos bombardeados com propaganda que nos incita a viver escravos do consumo. Neste sentido, a geladeira que eu levo para casa porque ganhei da loja um sofá só corrobora o fato de que eu acredito estar levando vantagem em tudo, quando na verdade, sou apenas um joguete nas mãos do capital.

As reflexões de Adorno são um convite para pensar nossa atitude diante do mundo. O que queremos ser daqui para frente? Seres emancipados ou escravos da nossa própria cegueira? Leiam com atenção, novamente o aforismo acima e deixem seus comentários sobre o que lhes causou mais impacto. Vamos discutir a temática do filósofo de Frankfurt.

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