No dia 16 de maio, sábado, foi ministrar um curso de duas horas na Universidade Federal de Uberlândia, em um evento promovido pelo pessoal da Psicologia. Chegando ao local destinado, encontrei uma sala com dez pessoas. Era para ser vinte. Montei meu material, que havia preparado em PowerPoint, e bem cuidadoso esperei por alguns minutos, na esperança de que mais pessoas chegassem. Mas não veio ninguém. Então, comecei a falar sobre meu tema, uma reflexão sobre os desafios para a educação na filosofia de Theodor W. Adorno.
Para fazer uma contextualização sobre o filósofo, desenvolvi uma breve exposição sobre a vida e o trabalho de Adorno. Seus estudos iniciais, a fuga para os Estados Unidos e a redação da Dialética do Esclarecimento em parceria com Max Horkheimer. Expliquei sobre os estudos acerca do horóscopo e do ocultismo feitos por Adorno, sobre a indústria cultural e os mecanismos de dominação. Para finalizar, falei do processo de racionalização da cultura ocidental e da barbárie, medo e falta de compaixão que as pessoas desenvolveram ao logo dos anos neste progresso tecnológico.
Tudo isso para introduzir a temática educacional. Mas foi ao longo das exposições sobre educação em Adorno que eu fiquei mais estarrecido, pois descobri que a escola no Brasil não forma os indivíduos. Um bom exemplo disso foram os próprios participantes. Quando falei sobre Adorno, mostrando que os indivíduos contemporâneos perderam a capacidade de compaixão e que a técnica moderna criou mecanismos de morte e eliminação bem planejados e articulados, os alunos não entenderam isso muito bem.
Disse que a educação deve lutar contra a violência e a barbaria para que acontecimentos como Auschwitz não se repetissem mais. Uma das participantes levantou a mão e pergunta quem foi Auschwitz. Meu Deus! Ela nem sabia o que era isso. Mostrei até uma foto do campo de concentração nazista e os prisioneiros empilhados, mesmo assim a ficha da moça não tina caído. E não foi só isso. Ao final, perguntado sobre como a escola poderia educação contra a barbárie, outra pessoa levantou a mão e perguntou: “professor, o que é barbárie?”. Então, fiquei a meditar: um estudante universitário não saber o que é barbárie, só pode ser porque a barbárie ainda persiste em nossa sociedade e está camuflada, escondida sobre outros contextos.
Muitas coisas eu disse sobre a escola, o papel do professor e a luta contra a violência e o terror, o preconceito e a indiferença. Não sei se plantei alguma semente de esclarecimento naquelas participantes, mas espero que pelo menos nossa educação escolha outra forma de trabalhar a formação entre os alunos. Do jeito que está não dá.
Um comentário:
A educação e a posse de conhecimentos e de hábitos culturais não nos salvam da barbárie. Muitos nazis eram imensamente cultos: gostavam de Goethe, de Bach, de Kant - de Kant!! O tal do Imperativo Categórico... E isso não os impediu de...
Por outro lado, é muito duvidoso que as máquinas e a tecnologia tenham mais consequências que aumentar a eficácia dos meios de perseguição, tortura e morte.
Há muitos anos que não leio os autores que referiu, mas não guardo boas memórias: julgo que fizeram uma mistura desinteressante de má filosofia e de má sociologia e que as suas opiniões têm pouco fundamento.
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