sexta-feira, janeiro 18, 2008

Uma ou "Duas Caras"!


Parece que a lógica noveleira sempre vai ser assim. Quando uma novela estreia, seu índice de audiência é o pior possível. Quando todos os personagens se encontram e cativam o público, o sucesso aumenta. No final da série, há uma vitória incontestável de pontos no ibope televisivo. Assim, a tacada perfeita, o glamur e a reviravolta de "Duas Caras" só acontece quando o público mergulha e se identifica com os personagens, e claro, com o enredo da trama.

A novela "Duas Caras" da Rede Globo começou com o ingrediente indispensável em qualquer narrativa trágica. Uma linda e indefesa menina que é enganada por um pobre mas experto homem que rouba sua fortuna. A ele não interessava viver junto com a vítima e sim dar a volta por cima, pisar naqueles que a seu ver são responsáveis pela vida sofrida de milhões de pobres favelados. Os ricos!

Uma oportunidade que o personagem Ferraço não descartou foi explorar a ingenuidade de pessoas apaixonadas. Soube até lidar com os ciumentos de plantão como Claudius. Seu golpe foi um sucesso e resultou na etiqueta de vilão da trama. Agora, munida do sentimento de vingança, a personagem Maria Paula, que teve um filho do vilão, ardilosamente prepara um plano para destruí-lo, e claro, usara seu filho para tanto. Aos poucos, essa narrativa vai se enchendo de temperos excitantes que uma boa telenovela das oito precisa para fazer sucesso e fazer jus ao investimento empreendido.

O que me chama atenção, porém, é o fato deturpador que a novela insere na consciência dos telespectadores. Não tenho dúvidas de que todo sucesso deve vir acompanhado de uma certa barbárie mental. Manipulação e identificação significam o melhor meio de atrair o público desatento. De modo que, ao jogar com estereótipos, a novela cria um ambiente de enigma que conquista as pessoas, sem falar na forma como procura estabelecer uma identificação dos personagens com o público. As pessoas se esquecem que tudo isso é ficção e tendem a gostar do que, realmente, é uma forma de destruição inconsciênte.

O autor, brilhantemente, consegue sugerir temas típicos, banais e que passam desapercebido das pessoas no dia-a-dia para revesti-los de astúcia e preconceito. Um exemplo disso é o personagem Rudolf Stenzel interpretado pelo ator Diego Almeida. Rudolf se considera porta-voz das minorias desfavorecidas e excluídas. Se proclama um ativista contra a burguesia e o racismo. Mas confunde sua luta revolucionária com pretensões sofistas. Não se entrega a análise do ambiente e julga precipitadamente todos ao seu redor. Cria armadilhas e passa uma imagem de baderneiro, como se todos que militam por uma causa, não importa onde seja, também o são.

Ao criar tal personagem, o autor desvia a atenção do público para um lado perigoso, não condizente com a realidade. Mostra que racismo e preconceito não existem, são situações superadas no país, e que as pessoas de opinião favorável a existência ainda do preconceito são alienadas e ardilosas como Rudolf. Esse personagem vira o estereótipo da luta contra o racismo. Todos os jogos do autor manipulam a opinião publica e gera protesto.

A Globo é ciente de que suas novelas não são a melhor indicação de cultura. Na verdade, novela hoje é produto, entretenimento, não acrescenta nada para ninguém, a não ser prazer. Servem como exemplo, para serem criticadas. No meu ponto de vista, novela significa diversão e diversão não possui ligações com o conhecimento. Para dar boa aparência a seus propósitos fascistas, as novelas cria situações de conscientização, como drogas e alcool, todavia, ao lado de propaganda consumista. Em suma, não dão a menor importância ao que os outros pensam. Novelas são como Pilatos, lavam as mãos e mandam crucificar a liberdade.

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