domingo, fevereiro 24, 2008

Reflexões de uma visão política

Nos Mínima Moralia, aforismo 52, o filósofo alemão Theodor Adorno declara: “Para cada ser humano existe um protótipo nos contos; basta apenas ir procurá-lo”. Se podemos encontrar um protótipo de homem nos contos, por que não achar um protótipo de partido político também nos contos? No Brasil, o conto que mais serviria para ilustrar certos partidos seria o conto do Pinóquio.

Pinóquio foi um boneco de madeira criado pelo marceneiro Gepeto e que ganhou vida por uma mágica da fadinha Azul. O boneco tinha um sonho, ser um menino de verdade, mas a fada o alertou que isso só seria possível se ele fosse verdadeiro e honesto com seu pai Gepeto. Assim, o velho ficou muito feliz de ter ganhado um filho. Mas Pinóquio não atendeu aos pedidos da fadinha e começou a mentir. Em conseqüência disso, seu nariz de madeira crescia toda vez que dizia algo não conivente com a verdade.

O final da história todos nós sabemos. De tanto mentir e se arrepender, o menino de madeira tomou juízo, enfrentou perigos para salvar seu pai e como recompensa por ter aprendido a lição, foi transformado em um menino de verdade pela fadinha Azul. Que pena, meus amigos, se isso fosse verdade no mundo de hoje. A realidade é mais cruel do que se possa imaginar. O Gepeto, um grandioso e revolucionário partido político, tem um sonho fabuloso; criar um político (um Pinóquio) que fosse o melhor de todos os tempos, preocupado com a miséria, com a educação, com a saúde e principalmente com a economia. Verdadeiro, honesto, integro seriam seus ingredientes exclusivos, nenhum outro seria como ele, o melhor e mais autêntico político de todos.

Esse político verdadeiro seria o boneco transformado em menino de verdade. Todavia, a mesma fadinha Azul que deu vida ao boneco, a fadinha da ideologia política, não conseguiu mudar tal político. Ele continuou só boneco. Um mentiroso, um desonesto, um corrupto. O pobre Gepeto fica desiludido e se pergunta: “onde foi que errei?” Mas o pobre boneco que surgiu de um ideal, foi se lambuzando com a lama do poder e gostou muito desse chafurdo. Só que há um pequeno detalhe. O nariz desse político sempre cresce e aparece na mídia para todo mundo ver.

O conto do Pinóquio é um protótipo de partido político que está impregnado por gente burra e mentirosa. Pessoas falsas que se dizem defensoras de um ideal, de um projeto político, mas visam apenas à diversão. Não querem saber da mais ninguém a não ser do seu próprio nariz, que vai crescendo, crescendo, até que um dia, o tamanho dele já não se pode esconder. Ai, meus caros leitores, o final não é feliz, é triste mesmo, deprimente.

Eu gostaria, assim como muitos brasileiros, que houvesse outro conto para ilustrarmos um partido político em nosso país. Um conto que tivesse um final feliz. Acho que só posso pensar a fadinha Azul não como essas ideologias baratas, mas como a Democracia mesma. É nas eleições que precisamos escolher o verdadeiro Pinóquio, o que vai se tornar menino. Não aquele que mente, mas o que é honesto. Só nós é que temos o poder de transformar o Pinóquio num menino verdadeiro. Os outros Pinóquios, a gente manda pro fogo.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

O vírus do Poder. Fidel deixa a presidencia de Cuba


O PODER parece ser um vírus. O vírus não tem nenhum tipo de aparência ou corpo. Ele é constituído de uma cadeia de DNA ou RNA que quando penetra em uma célula, começa a se reproduzir e a matar sua vítima aos poucos. Dai em diante, novos vírus vão surgindo. Aparentemente, essa é a única função e existência de um vírus. Sugar a vítima e se reproduzir. O Poder não deixa de ter essas mesmas características. Uma vez que se hospeda em um indivíduo, vai sugando-o e se reproduzindo, passando para um e para outro. Qual será a vacina contra o vírus do Poder?

Fui surpreendido com a notícia de que Fidel Castro renunciou ao cargo de presidente de Cuba. A notícia ocupou as mais destacadas páginas de jornais pelo mundo afora. Em pleno século XXI, a ditadura de Fidel resistiu 49 anos no poder, e mesmo com o fim da União Soviética, permaneceu intransponível aos ideais de democracia. Os títulos que destacaram o fim de uma era traziam como chamativo: "Fidel renuncia ao PODER", "Fidel deixa o PODER de Cuba". Sempre a palavra PODER recebe um destaque maior quando se trata de um governo comunista. E na democracia? Existe essa esfera do Poder? Há quem renuncie ao poder? Claro que sim. O Poder está disseminado por ai. Todo mundo corre o risco de se contaminar. É um vírus contagioso. Pode não te matar, mais vai liquidar seus opositores.

Têm gente por ai elogiando Fidel, outros o criticando. Uma coisa é certa, cada opinião se forma a partir de um ponto de vista alienado. Se Fidel seguiu os ideais socialistas, comunistas ou marxistas, e seus discursos eram prolongados e especiais, não encobre a matança de muitos homens. Adversários políticos, famílias, tudo. Uma verdadeira chacina. Mais uma conseqüência do vírus do poder. Ele destrói seus adversários. É muito complicado fugir dele, mas não é difícil domesticá-lo. Basta que tomemos injeções de Filosofia, de Crítica e também de Democracia.

Eu, como muitos outros, esperamos a democracia em Cuba. Esperamos o direito do povo se expressar, de criticar, de tirar alguém do Poder. Numa democracia, nós é que elegemos, nós é que tiramos e colocamos alguém no Poder. Faz-se algo de errado, a gente o tira. Essa certeza democrática precisa vencer. Mas, como diriam os filósofos, tem gente que confunde Democracia com Capitalismo. Um regime ditatorial pode ser capitalista também, vejam o exemplo da China. A única coisa que não pode ser é uma democracia, que preserve os direitos humanos. Assim, esperamos isso para o povo cubano.

O vírus do poder está espalhado até mesmo nas democracias. Isso porque seu combustível se chama Capital. É o dinheiro que movimenta e espalha o vírus. Temos que acabar com os focos de corrupção e ladroagem. Estes são recipientes férteis para propagação do mosquito da “Podernomia”. Os sintomas são claramente percebidos. Os indivíduos começam a usar cargos públicos em beneficio próprio. Driblam as leis e amaciam os que não estão contaminados. Os meios de comunicação prestam um grande serviço de saneamento básico, quando desmascaram os redutos de propagação do inseto. Vamos acabar com isso, vocês podem colaborar e muito.


Cuba precisa ser democratizada, sem os mosquitos da “Podernomia”. Infelizmente, alguns deles estão a 140 km da ilha e podem a qualquer momento chegar e distribuir a virose. Pelo menos, lá não tem analfabetismo, e sem dúvidas, o vírus pode ser facilmente evitado. Entretanto, sempre há um escondido, esperando para deixar sua marca. Não podemos fugir, apenas lutar para evitar o pior. Assim como o vírus não importa se o corpo no qual ele ataca esteja bom ou ruim, o vírus do Poder só funciona em corpos sadios, se eles ficam doentes, percebem que não se tornaram deuses com ele, são pessoas normais como qualquer um de nós. Em suma, o vírus perde seu encanto.

domingo, fevereiro 17, 2008

Eleições presidenciais nos Estados Unidos: Obama


Por que as pessoas no mundo todo acompanham os bastidores das eleições presidenciais nos Estados Unidos? Quais os motivos para tanta curiosidade sobre o novo e futuro presidente da maior potência econômica do mundo? Durante semanas, as prévias norte-americanas foram destaque em muitos jornais. Muito mais lidas são as reportagens sobre a disputa de Obama e Hilary Clinton como candidatos pelo partido democrata. Notoriamente, Obama vem se mostrando um adversário difícil para Hilary e conquistando muita popularidade. Entre nós há certa simpatia pelo candidato Obama, justamente pelo fato de ser um representate do sentimento de mudança cultural, que também motivou a escolha de presidentes populares na América Latina.

A maior parte das pessoas, mesmo aquelas que cresceram economicamente, possuem ainda o sentimento de liberdade e igualdade que norteia toda política liberal. Todos esperam que as injustiças do passado sejam remediadas pela competência e capacidade daqueles que foram um dia, excluídos do privilégio social. Obama representa para muitos jovens e velhos um símbolo de libertação e de reconhecimento da capacidade cultural e respeito a direfença. Por ser negro, sintetiza todo o passado de dor e sofrimento que os povos africanos sentiram com a escravidão e com o preconceito.

Na América Latina, o mesmo sentimento de superação paira sobre o círculo das comunidades que acreditam em políticos de origem humilde e simples, como um sinônimo de mudança. É a vez de dar oportunidade aos grupos cuja ideologia prega o fim do preconceito e da aristocracia fundiária e rica. A ascensão de presidentes como Lula, Evo Morales e Hugo Chaves representa esse sentimento que faz as pessoas quererem a vitória de Obama, mesmo não sendo partidários da política externa, há muitos anos, fria e imperialista nos EUA.

As pessoas, em todo mundo, vêem que um político com causas parecidas e com uma imagem menos característica de um déspota seria capaz de mudar a imagem americana frente aos últimos acontecimentos militares da política Bush. Não menos corro o risco de afirmar que os norte-americanos buscam uma nova imagem para o país. Eles sabem que o mundo, e principalmente o mulçumano, não morre de amores pelo exemplo de progresso ao longo dos anos conquistado pela república americana. Para por fim a esse papel de inimigos do mundo, a escolha de Obama seria crucial em relação aos interesses internacionais da América.

Um país influente economicamente, deseja mais que estabilidade, também quer uma imagem limpa e melhor. Os norte-americanos se preocupam muito com a aparência, e sabem como ninguém, da importância disso para o mundo. A tendência é que Obama seja um forte candidato à casa branca e, a meu ver, seria uma experiência interessante, uma visão nova da América que abalaria os mais pessimistas teóricos da ciência política. Cabe aguardar os resultados e as eleições que prometem ser muito bem apreciadas pelo mundo inteiro.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Sobre a difesa da vida: uma campanha


A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) lançou na quarta-feira de cinzas (06/02) mais uma edição da Campanha da Fraternidade realizada todos os anos no país com uma temática social. Dessa vez, os bispos brasileiros escolheram o tema sobre a defesa da vida. “Fraternidade e defesa da vida” é o tema da campanha cujo lema é “Escolhe, pois, a vida”, passagem extraída da Bíblia (Dt 30, 19). O objetivo principal da campanha é promover encontros reflexivos onde diversos assuntos polêmicos são tratados e discutidos entre os católicos. Um deles é o aborto.

Parece oportuno em pleno momento em que o congresso organiza um plebiscito popular sobre a legalização ou não do aborto em certos casos, como por exemplo, o estupro. Deferente de qual seja a origem, o aborto é um assunto que já tem seu veredicto tomado pela Igreja. Ele está terminantemente proibido, pois viola a vida. Esse é o foco da campanha: alertar as pessoas sobre a legalidade do direito de matar um ser humano em formação. Legalizar o aborto seria banalizar a vida.

Realmente, essa campanha tem um fundo esclarecedor, e é positiva para democratizar o debate acerca do princípio de se defender a vida. Em uma sociedade cada vez mais fechada no individualismo e na falta de fraternidade, as pessoas acham que tudo pode ser resolvido com tranqüilidade a partir da eliminação definitiva do problema. Muitos pregam a pena de morte, o massacre, o holocausto, como maneiras de saneamento do mundo. As pessoas estão impregnadas de um ponto de vista natural da auto-sobrevivência e acreditam que o “diferente” é prejudicial. No fundo, a humanidade sempre buscou formas diretas e eficazes de resolver seus problemas. Entretanto, não é universalizando a morte que podemos resolver todos os nossos problemas.

A igreja tenta pregar algo universal. Acredita que se houver uma banalização da vida, um casuísmo generalizado, no futuro já não poderemos sentir qualquer compaixão pelo próximo, uma vez que a vida dele é desprezível, não vale nada. Temos a frente o imperativo categórico kantiano, de que uma ação, por mais justa que pareça ser, não pode ser universalizada quando fere a liberdade dos indivíduos. Para Kant, as pessoas não devem ser usadas como meio para obtenção de determinado fim. Todos nós possuímos projetos pessoais de vida que necessitam ser respeitados. Se você universaliza o aborto, acaba validando sua pratica as vontades pessoais de cada indivíduo. No caso, a mulher pode simplesmente pedir o aborto para se livre de dores ou desconfortos. Ninguém pode querer uma situação dessas. Mesmo que a gestação seja fruto de um ato de violência, não é permitido que se mate um ser vivo por motivos pessoais. Outras soluções precisam ser encontradas, entretanto não se pode generalizar uma barbárie como a morte de uma criança, uma pessoa em potencial que terá também projetos de futuro.
No fundo, existe uma boa forma de analisarmos cada proposta apresentada pela Igreja. Não é intuito de a instituição induzir as pessoas a tomar uma ou outra postura sem antes colocar na mesa as cartas do jogo. É uma decisão que cabe ao indivíduo, mas este precisa de pressupostos para fazer sua escolha. Esta não é fruto do acaso, mas de uma reflexão profunda e livre de qualquer preconceito. Diferente dos políticos que fazem tudo por debaixo dos panos, iniciativas como essa são bem-vindas em uma sociedade carente de reflexão. Devemos promover do debate sem que as pessoas se sintam forjadas a tomarem decisões que não partiram de uma boa verificação conceitual. Nesse ponto, eu apoio a Igreja e estou com ela na luta pela vida.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Carnaval, pão e circo


O primeiro imperador romano, Otávio Augusto, governou de 27 a.C. a 14 d.C. Entre as principais medidas tomadas em sua ditadura está à política do pão e circo. Distribuía gratuitamente trigo para os pobres e organizava espetáculos públicos de circo. Com tais iniciativas, se tornou bastante popular e teve apoio massivo da população romana. Entretanto, nunca foi um homem democrático. Limitou o poder do Senado e matou seus inimigos. Fez o império prosperar, mas com grandes sacrifícios.

O carnaval de hoje não fica longe da realidade de Otávio Augusto. Sendo o soberano do governo, patrocinou a festança do povo. Os governos atuais, principalmente no Brasil, também patrocinam a farra dos eleitores. Todos os carnavais recebem incentivos e verba de leis que classificam o carnaval como “cultura”. Sendo “cultura”, pode ser financiado com dinheiro público. Enquanto o povo brinca, pula, come a vontade, não percebe o que está por detrás dos panos.

Enquanto se preenche o “tempo livre” com pão e circo, ninguém irá preparar uma revolução para contestar os mandos e desmandos da política. E isso corresponde o sucesso dos carnavais, ano após ano. Todos discutindo a melhor fantasia, o melhor samba-enredo e escolas. Os olhares do Brasil se voltam para as avenidas e sambódromos do Rio e São Paulo. Só o carnaval de Brasília não se tem notícias.

Nem todo mundo pode ter um carnaval feliz. Alguns morrem, outros ficam feridos, outros cheios de seqüelas. A fasta que era de todos acaba se tornando festa de poucos. Abusam do álcool e da direção. Todos se transformam, mudam de face. O carnaval virou recipiente de degenerados. Quem vai pensar em política numa hora dessas?

Então, carnaval é o melhor negócio para entreter o povo. Para fazer o povo esquecer que tem um país abandonado e sem iniciativa. Muito mais rentável, pois nele tudo se paga. E a procura é grande. Se Otávio Augusto tivesse a mesma ousadia dos marqueteiros modernos, ele saberia explorar muito mais o potencial do pão e circo como acontece agora. Ele não precisaria distribuir gratuitamente à população. Bastava uma boa propaganda para encher os cofrinhos do império. Todo mundo estaria feliz e não encontraria tempo para criticar o seu governo.

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